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O treinador como fator de stress no esporte infanto-juvenil

Amigos do Basquetebol

Segue um breve relato de resultados de pesquisas realizadas no Brasil, com atletas infanto-juvenis de várias modalidades esportivas coletivas par apontar fatores provocadores de stress em situação de jogo.

Essas pesquisas foram realizadas através da aplicação de um questionário denominado “Formulário para Identificação de Situações de “Stress” em Jogo” desenvolvido por mim e pelos componentes do extinto Grupo de Estudos e Pesquisa em Psicologia do Esporte que atuou durante cerca de 15 anos na Escola de Educação Física e Esporte da USP.

Foram entrevistados 417 atletas de três modalidades esportivas coletivas (Basquetebol, Handebol e Voleibol) com idade variando entre 14 e 19 anos. Os resultados apontaram diversas situações que provocavam stress nesses atletas durante as partidas de suas respectivas modalidades esportivas.

Dentre elas podemos destacar: errar em momentos decisivos, cometer erros que provocavam a derrota da equipe, cometer os mesmos erros, arbitragem prejudicial à sua equipe, jogar contundido, companheiros egoístas, perder para equipe tecnicamente inferior, perder jogo praticamente ganho e jogar contundido.

Além dessas situações, que foram as mais frequentes, chamou a atenção o fato de que, entre as 15 mais frequentes, 5 situações se referiam aos treinadores como fatores provocadores de stress.

  • treinador que não reconhece o esforço do atleta
  • treinador injusto
  • treinador que só critica
  • treinador que só enxerga o lado negativo
  • treinador que grita muito

Esses resultados relativos à atuação do treinador durante os jogos nos levam a refletir sobre o comportamento que deve ser adotado durante esses jogos e que devem ser voltados à orientação dos atletas para que possam resolver situações críticas em determinados momentos dos jogos.

Principalmente, ao lidarmos com jovens em fase inicial de aprendizagem, o comportamento deve ser sempre no sentido de mostrar-lhes caminhos e não, simplesmente, apontar os possíveis erros que estejam cometendo. É isso que o jovem atleta espera de seu treinador (orientador).

O treinador, nessas faixas etárias deve saber equilibrar suas críticas e nunca expor seus atletas a constrangimentos, exibindo publicamente suas deficiências. Isto, a competição por si só se encarrega, pois o atleta está sendo observado em ambiente público e aberto. Qualquer crítica mais direta deve ser feita de forma discreta sem comparações com outros atletas. Devemos lembrar que os atletas estão em fase de desenvolvimento e é impossível se encontrar duas pessoas com as mesmas características físicas, motoras e, principalmente, psicológicas.

De que adianta gritar o tempo todo sem que se apresente uma solução plausível para um determinado problema de jogo?

Portanto, o que se espera de um treinador de equipes de base é o equilíbrio necessário para que seus atletas o tenham como uma referência e não como alguém que vai lhes trazer insegurança e, até mesmo, medo de tentar realizar algo. Espera-se que o treinador de categorias de base seja um orientador, pronto a intervir nos momentos críticos, com atitudes assertivas (o que não significa passar a mão na cabeça dos atletas).

O texto completo da pesquisa pode ser acessado através do endereço abaixo

http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1807-55092004000400007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt