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Motivos que levam à prática do basquetebol: parte 2

Nesta segunda parte do mini artigo, serão apresentados os resultados obtidos com um estudo realizado com jogadores de basquetebol atletas brasileiros de 15 a 18 anos que participaram de competições oficiais da Federação Paulista de Basketball no ano de 2004.

Foram avaliados 135 jogadores: 74 do sexo masculino e 61 do feminino.

Para a coleta de dados foi utilizado o “Formulário para Identificação de Situações de Stress no Basquetebol” (FISSB) criado por DE ROSE Jr. (1999). Este instrumento possui três partes. Uma ficha de identificação do atleta que visa obter algumas informações pessoais do mesmo, bem como dados básicos da sua vida esportiva. Uma segunda parte composta por 162 questões, sendo que para cada uma o atleta tem a opção de dar uma única resposta numa escala de 0 a 5 (nenhum stress à stress muito elevado). E a última com quatro perguntas abertas em que o atleta pode discorrer livremente em função das questões sobre motivos, objetivos, importância do esporte e situação crítica de stress.

Este estudo baseou-se na primeira pergunta aberta do formulário, “O que o levou a iniciar a prática do basquetebol?”.

Foram consideradas todas as respostas, mesmo quando um determinado atleta manifestava-se mais do que uma vez.

Além disso, foi feita uma distribuição da frequência (absoluta e relativa) de cada resposta e dos motivos categorizados para cada sexo.

A partir da análise indutiva, procurou-se agrupar as respostas dos atletas, identificando categorias gerais e específicas para cada grupo de motivos, partindo-se do conceito geral de motivos intrínsecos e extrínsecos.

Nos 135 formulários respondidos foram identificadas 225 manifestações sobre motivos de prática do basquetebol, sendo 156 por parte dos rapazes e 69 por parte das moças. Dessas manifestações, 94 estavam relacionadas a motivos intrínsecos (41,8%) e 131 a motivos extrínsecos (58,2%).

A partir desses dados e das características das respostas foi feita a categorização das mesmas, sendo que para os motivos intrínsecos foram determinadas 4 categorias gerais (aspirações; necessidades cognitivas e emocionais; prazer pela modalidade e percepção das qualidades individuais) e para os motivos extrínsecos foram determinadas 2 categorias gerais (pessoas significativas e ambiente social).

Os motivos apontados e as categorias aos quais estão associados são apresentados a seguir:

Motivos Intrínsecos:

  1. Aspiração: Ser um bom jogador ; ser um grande profissional da área
  2. Necessidades cognitivas e emocionais: Desenvolver inteligência; enfrentar desafios; querer praticar um esporte; necessidade de desenvolver o raciocínio e forma de se livrar de outros problemas
  3. Prazer pela modalidade: Sempre fiz vários esportes e optei pelo basquetebol; por ser uma modalidades competitiva; por gostar muito do basquetebol e por diversão
  4. Percepção das qualidades individuais: por ser alto; por me destacar nos jogos

Motivos extrínsecos:

  1. Pessoas significativas:
  • influência da família; tio árbitro
  • modelos: primos que jogavam; pai jogador; tios jogadores; ver a Paula jogar
  • influência do professor/técnico: convite para jogar; apoio do professor de educação física
  1. II. Ambiente Social: ver jogos pela TV; único esporte praticado na escola; clube perto de casa; assistir jogos ao vivo

O prazer pela modalidade esportiva aparece como um dos principais motivos para a prática do esporte, sendo que esta intimamente ligado a motivação intrínseca.

As pessoas significativas são consideradas como as que tiveram maior importância para o início da prática do basquetebol e também a mais importante na classificação geral. Nessa categoria geral a família e o professor/técnico destacam-se pela frequência das respostas.

Os modelos e os amigos tiveram destaque apenas para os rapazes. Já o ambiente social foi citado pelos jovens de ambos os sexos como importante para o ingresso na modalidade.

Entende-se que o professor/técnico deve introduzir uma metodologia de trabalho que perpetue o prazer pela modalidade ao longo da vida esportiva do jovem. As cobranças dos professores/técnicos por resultados e títulos pode tornar a vivência no esporte muito estressante para o jovem, diminuindo ou até mesmo ausentando de prazer toda a sua experiência na modalidade.

O professor/técnico consciente dos principais motivos que levam um jovem a prática esportiva, pode como pessoas significativas que também o são, utilizá-los como principio para transformá-los em prazer pela modalidade, sabendo que este é decisivo para a continuidade do jovem na vida esportiva.

Compreender também que os pais e outras pessoas que possuem influência na vida da criança é essencial para os professores/técnicos nas categorias de base, pois é de responsabilidade deles orientar os pais da importância do seu papel na vivência deste jovem no esporte, tendo em vista que a família pode cooperar para que está experiência seja algo menos estressante do que já é por se tratar das exigências que o esporte impõe aos seus praticantes.

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Boas leituras 3: a pedagogia do esporte


Dando sequência a uma série de sugestões sobre leituras relacionados ao esporte apresento a todos três obras muito importantes sobre “Pedagogia do Esporte”. Todos os treinadores, independentemente da categoria com a qual trabalham devem sempre estar atentos aos aspectos pedagógicos que permeiam o contexto da prática esportiva.

Nesse sentido sugiro a leitura dessas obras:

1 – Pedagogia do esporte: jogos coletivos de invasão. Autores: Riller Silva Reverdito e Alcides José Scaglia. Editora: Phorte. Ano: 2009.

O livro apresenta a pedagogia do esporte sob o ponto de vista de importantes autores, a relação entre esporte e educação e pressupostos didáticos para o ensino e aprendizagem dos esportes coletivos.

2 – Pedagogia do Esporte: contextos e perspectivas. Autores: Roberto Rodrigues Paes e Hermes Ferreira Balbino. Editora: Guanabara Koogan. Ano: 205.

Os organizadores reuniram um excelente time de pedagogos, técnicos e especialistas em educação física e esporte para discutir o esporte na infância, as competências motoras, treinamento técnico-tático, enfoque para deficientes visuais, aprendizagem da ginástica e do basquetebol e as inteligências múltiplas.

3 – Pedagogia do Desporto. Autores: Go Tani, Jorge Bento e Ricardo Petersen. Editora: Guanabara Koogan. Ano: 2006.

Como fruto de um convênio entre USP, Un.Federal do Rio Grande do Sul e Un. do Porto, esta obra reúne 38 profissionais especializados no assunto e que apresentam temas que relacionam a pedagogia à formação, alto rendimento, lazer, saúde e qualidade de vida, especialização precoce, competição e abordagem sobre vários esportes.

São leituras indispensáveis.

Boas leituras.

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Motivos que levam à prática do basquetebol: parte 1

Nesta série de mini artigos, o tema abordado será a Motivação. Serão dois posts falando desse importante componente psicológico e de estudos específicos sobre os motivos que levam os jovens a praticar uma modalidade esportiva, especificamente o basquetebol.

Eles se baseiam no artigo elaborado por Dante De Rose Junior, Roberto Ramos de Campos e Marcelina Tribst, publicado na Revista de Psicologia Del Deporte, v.10, p. 293-304, 2001.

Introdução

A motivação está ligada a fatores de personalidade e variáveis sociais e cognitivas que entram em jogo quando uma pessoa dedica-se a uma tarefa na qual está sendo avaliada, entra em competição com outros ou tenta atingir algum nível de excelência, pois nestas ocasiões é assumido que o indivíduo é responsável pelo resultado da tarefa e que algum nível de desafio é inerente a ela. A motivação é responsável pela escolha, persistência e rendimento numa atividade.

A maioria dos jovens tem seu primeiro contato com uma modalidade esportiva na infância ou no início da adolescência através das aulas de educação física ou da escolinha de esporte da escola ou de um clube. Desta forma, o professor/técnico deve saber o que levou este jovem a procurar esta modalidade esportiva ou o que o faz praticar, ou seja, deve identificar os motivos para a prática.

A iniciação em uma determinada modalidade esportiva pode estar baseada em inúmeros motivos que vão desde a perspectiva de ser um ídolo até a vontade unicamente vinda dos pais, seja por razões educacionais, de saúde, desejos pessoais ou pela busca de ascensão social. Logo, os fatores que levam uma criança a prática de alguma modalidade esportiva podem estar relacionados a suas competências físicas, necessidade de pertencer a um grupo, razões sociais, pressões internas e externas.

A motivação possui duas importantes fontes, uma intrínseca relacionada a pessoas que gostam de competir, procuram divertir-se e aprender; e outra extrínseca ligada a fatores externos e que são estimuladas por reforços positivos e negativos. os fatores intrínsecos estão ligados a indivíduos que gostam de ação, diversão e percebem que são bons em algumas habilidades. Os extrínsecos são representados por recompensas externas, como elogios ou premiações. Os jovens possuem vários motivos para o ingresso na prática esportiva, contudo, o que mais aparece nas pesquisas é a diversão proporcionada por ela.

Algumas investigações sobre os motivos que levam jovens atletas a participar de uma modalidade esportiva identificam categorias relacionadas aos motivos intrínsecos e extrínsecos:

Motivos Intrínsecos:

  1. Aspiração: jovens que almejam atingir o nível mais elevado dentro da modalidade e, além disso, pretendem ter destaque nas suas carreiras quando atingirem o profissionalismo;
  2. Necessidades cognitivas e emocionais: perceber a modalidade como uma tarefa que possa contribuir nos aspectos cognitivo e emocional.
  3. Prazer pela modalidade: é uma recompensa vivenciada na própria prática sendo um comportamento motivado intrinsecamente. Ou seja, a prática esportiva é a prória fonte de prazer.
  4. Percepção das qualidades individuais: é a percepção que a pessoa tem a respeito de sua habilidade no esporte ou mesmo de ser diferenciada nos aspectos social, biológico, cognitivo e motor, sendo que sucesso e fracasso são avaliados pelas pessoas significativas;

Motivos extrínsecos:

  1. Pessoas significativas: são os adultos, pais, professores, entre outros, que interagem com o jovem influenciando suas ações.
  2. Ambiente Social: instituições que contribuíram à prática da modalidade, como a escola e o clube, além da cidade que possibilitou e foi percebida como facilitadora para seu acesso no basquetebol.

É importante que o professor/treinador conheça os motivos pelos quais um jovem é levado a praticar uma modalidades esportiva, pois através deste conhecimento ele poderá criar ambientes adequados de trabalho, levando seus atletas a uma satisfação que o mantenha na atividade e tenha sempre vontade de voltar e continuar com o mesmo entusiasmo.

Na segunda parte deste mini artigo, serão mostrados resultados de um estudo realizado com jovens brasileiros praticantes de basquetebol.

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Os rapazes olímpicos


Parafraseando Geraldo Vandré, “prá não dizer que não falei dos homens”, seguem dados da participação dos rapazes brasileiros em Jogos Olímpicos.

A primeira participação do basquetebol masculino do Brasil em Jogos Olímpicos foi em Berlin (1936) e a última, em Atlanta (1996). Desde então o Brasil vê frustradas suas tentativas de classificação nos torneios Pré–Olímpicos. Neste ano de 2011, teremos nova chance no torneio que será realizado em Mar Del Plata, Argentina, quando duas vagas estarão em jogo. Considerando que os Estados Unidos já estão com a vaga garantida em função de terem conquistado o título mundial na Turquia, nossa chance será muito grande.

Ao todo foram 13 participações. Ficamos fora dos Jogos de 1976, 2000, 2004 e 2008.

Nossas participações:

1936 – Berlin – 9º. Lugar

1948 – Londres – 3º. Lugar*

1952 – Helsinque – 6º. Lugar

1956 – Melbourne – 6º. Lugar

1960 – Roma – 3º. Lugar

1964 – Tóquio – 3º. Lugar

1968 – México – 4º. Lugar

1972 – Munique – 7º. Lugar**

1980 – Moscou – 5º. Lugar

1984 – Los Angeles – 9º. Lugar

1988 – Seul – 5º. Lugar

1996 – Atlanta – 6º. Lugar

*Primeira medalha olímpica de uma modalidade coletiva brasileira

** O atleta Luis Cláudio Menon foi o porta-bandeira da delegação brasileira no desfile de abertura.

Os técnicos:

Arno Frank (1936); Ary Vidal (1988 e 1996); Cláudio Mortari (1980); José Medalha (1992); Manoel Pitanga (1952); Mário Amâncio Duarte (1956); Moacyr Daiuto (1948); Renato Brito Cunha (1964, 1968 e 1984) e Togo Renan Soares – Kanela (1960 e 1972)

Os atletas que mais participaram nas 13 edições dos Jogos,

Oscar – 5; Cadum, Wlamir, Algodão, Marcel e Mosquito – 4; Adilson, Amaury Pasos, Sucar, Rosa Branca, Edson Bispo, Gerson, Israel, Pipoka, José Edvar, Marquinhos e Ubiratan – 3.

Os atletas que mais jogaram: Brasil realizou 100 jogos, conquistando 57 vitórias.

 

Oscar – 38, Wlamir Marques – 33, Mosquito e Marcel – 29, Ubiratan e Algodão – 27, Sucar e Rosa Branca – 25, Edson Bispo – 24, Adilson, Amaury, Gerson, Israel e Marquinhos – 23, Cadum – 21.

Nossos maiores cestinhas. Nesses 100 jogos, o Brasil anotou 7583 pontos (média = 75,8) e sofreu 7183 (média  = 71,8).

Oscar – 1093 pts*, Wlamir Marques – 537 pts, Marcel – 377 pts, Ubiratan – 356 pts, Marquinhos – 328 pts, Amaury Pasos – 263 pts, Algodão – 224 pts, Israel – 221 pts, Paulinho Villas Boas – 218 e Alfredo Motta, 217 pts.

*Maior cestinha dos Jogos Olímpicos em todos os tempos.

Considerando a média de pontos por partida, nossos maiores pontuadores foram:

Oscar – 28.8, Wlamir – 16.3, Paulinho Villas Boas – 14.5, Marquinhos – 14.3, Alfredo Motta – 13.6, Ubiratan – 13.2, Marcel – 13.0, Menon – 12.6, Amaury – 11.4 e Angelin – 10.7.

A primeira equipe. Em 1936 o Brasil foi representado pelos seguintes jogadores:

Aloysio (Baiano), Montanarini, Albano, Ary Pavão, Carmino, José Oscar, Cacau, Miguel Lopez, Nelson Monteiro, Waldemar Gonçalves. Técnico: Arno Frank.

Os medalhistas:

1948 – Evora, Marson, Alexandre Gemignani, Alfredo da Mota, Bráz, Marcus Vinícius, Massinet, Nilton Pacheco, Ruy de Freitas e Algodão. Técnico: Moacyr Daiuto.

1960 – Amaury Pasos, Sucar, Mosquito, Rosa Branca, Edson Bispo, Brobró, Jatyr, Blás, Waldemar Blatskauskas, Waldyr Boccardo, Wlamir Marques e Algodão. Técnico: Kanela.

1964 – Amaury Pasos, Sucar, Mosquito, Rosa Branca, Edson Bispo, Fritz, Jatyr, José Edvar, Sérgio Macarrão, Ubiratan, Victor e Wlamir Marques. Técnico: Kanela.

Além dos pioneiros e medalhistas já citados, também participaram dos Jogos Olímpicos os seguintes jogadores:

Adilson, Almir de Almeida, André Stofel, Rato, Angelin, Tonico, Josuel, Caio Silveira, Caio Cazziolato, Olívia, Scarpini, Demétrius, Eduardo Agra, Fausto Sucena, Fransérgio, Gerson, Gilson, Godinho, Hélio Rubens, Israel, Gedeão, Pipoka, Jnanjão, Jorge Dortas, Guerrinha, Joy, Saiani, José Geraldo, Zé Luiz, Menon, Luiz Felipe, Luiz Gustavo, Marcel, Marcelo Vido, Marquinhos, Mário Jorge, Maury, Mayr, Carioquinha, Nelson Couto, Nilo, Oscar, Paulo Cesar, Paulo Villas Boas, Radvilas, Raymundo, Cadum, Rogério, Rolando, Tião, Sílvio Malvezi, Thales, Wagner, Dodi, Bombarda e Minucci.

Quem sabe a nova geração possa repetir os feitos do passado e colocar nosso basquetebol de novo no cenário olímpico.

Vamos torcer – Mar Del Plata vem aí.

Que esta turma possa servir de inspiração para a nova geração

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Boas leituras 2: o tema agora é criança, esporte e atividade física

Dando seqüência às nossas sugestões de leituras sobre temas relacionados à prática esportiva, seguem as indicações de quatro obras.

Os quatro livros sugeridos abordam os diferentes aspectos das práticas esportivas e de atividades físicas por crianças e adolescentes. Em uma linguagem bastante clara e objetiva os autores dos livros e seus colaboradores mostram as relações dessa prática com aspectos como a fisiologia do exercício, treinamento e preparação física, nutrição, psicologia do esporte, pedagogia do esporte, obesidade, esporte para crianças e jovens portadores de deficiência, lesões, crescimento e desenvolvimento, aprendizagem motora, biomecânica dos gestos esportivos, o jogo infantil e as práticas educativas.

Os capítulos foram escritos por diferentes especialistas nos assunto e essas são leituras muito recomendadas para aqueles que atuam com essa população que merece toda nossa atenção e respeito.

Formação de Esportistas. Autor: Valdir José Barbanti. Editora: Manole (S.Paulo). Ano: 2005.

Desempenho esportivo: treinamento com crianças e adolescentes. Autor: Luiz Roberto Rigolin da Silva. Editora: Phorte (S.Paulo). Ano: 2006

Tópicos em desenvolvimento motor na infância e adolescência. Autores: Ruy Jornada Krebs e C.A. Ferreira Neto. Editora: Nova Letra (Rio de Janeiro). Ano: 2007.

Esporte e atividade física na infância e adolescência: uma abordagem multi-disciplinar. Autor: Dante De Rose Junior e colaboradores. Editora: Artmed (Porto Alegre). Ano: 2009.

Boas leituras!



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A importância do técnico na formação do jovem esportista

Amigos do basquetebol.

Apesar de ser um tema já abordado neste blog, nunca é demais atentarmos para as questões relacionadas à atuação dos técnicos nas categorias de base. Este texto é de minha autoria e apresenta, entre outras coisas, resultados de pesquisas que mostram como os técnicos podem se tornar agentes estressores e princípios que deveriam se seguidos para nortear a conduta desses profissionais.

Espero que gostem da leitura:

Introdução

De maneira geral, a prática esportiva infantil é permeada por ações adultas – pais, dirigentes, professores, técnicos e árbitros que, de alguma forma, interferem nas experiências esportivas dos praticantes. Nesse processo, o técnico tem uma importância fundamental, pois além de ser a pessoa que atuará diretamente sobre os futuros comportamentos esportivos dos jovens, ele também poderá influenciá-los fora dos campos de jogo. O poder de um técnico sobre um jovem esportista é muito grande a ponto de ele ser reconhecido como um dos principais motivos para a escolha de uma modalidade esportiva e, ao mesmo tempo, como um dos mais destacados fatores de abandono desta prática.

Muitas vezes, a vontade de vencer, de mostrar toda a capacidade de trabalho e  agradar a instituição à qual está vinculado, levam o técnico a proceder de maneira inadequada com os jovens atletas que procuram por uma oportunidade de praticar uma atividade esportiva.

Dentre tantos aspectos relacionados à prática esportiva competitiva podemos ressaltar:

  • Os aspectos biológicos, que envolvem o conhecimento do jovem desde seus estágios iniciais de desenvolvimento até as fases mais agudas como a puberdade e adolescência e que são essenciais para a determinação das cargas de trabalho adequadas a cada uma das fases
  • Os aspectos psicológicos, que envolvem o conhecimento dos traços de personalidade desses jovens e de seus limites em relação às exageradas cobranças, muito comuns no ambiente esportivo competitivo
  • Os aspectos pedagógicos, que envolvem o conhecimento dos conteúdos específicos, dos métodos e das estratégias adequados para cada momento das fases de desenvolvimento do jovem.

Conhecer e dominar os aspectos acima citados leva os técnicos a atitudes mais adequadas e intervenções seguras e significativas para o processo de formação esportiva dos jovens praticantes

O técnico como fonte geradora de stress nos jovens atletas

Estudo realizado com atletas brasileiros sobre os motivos de abandono do esporte infanto-juvenil apontam alguns dos aspectos negativos do contexto esportivo que levaram os jovens a interromper a prática de determinada modalidade: a ênfase exagerada na necessidade de vitória, o stress gerado pela competição e o fato de não gostarem do técnico. Curiosamente, o técnico é comumente citado pelos jovens como uma das principais razões que justificam a adesão à prática esportiva, mas também para o abandono da mesma. Este dado é bastante preocupante quando percebemos que o técnico como principal responsável por fomentar a prática esportiva dos seus atletas, acaba, por muitas vezes, afastando-os do esporte, sem ter consciência da repercussão dos seus atos entre os jovens esportistas.

Pesquisas feitas com atletas de categorias de base no Brasil (14 a 18 anos) mostram que as atitudes de técnicos relacionadas à sua comunicação com os jovens atletas podem ser entendidas como prejudiciais e causadoras de stress nos esportistas que buscam, na verdade, por orientação e solução de problemas e não, simplesmente a crítica desmesurada e sem objetivos.

Nesses estudos que abrangeram cerca de 500 atletas de basquetebol, handebol, natação e voleibol, o objetivo principal era detectar situações causadoras de stress em competição. Nele, os técnicos aparecem com destaque como provocadores de stress quando apresentam comportamentos tais como:

  • não reconhecer o esforço dos atletas,
  • gritar ou reclamar muito,
  • enfatizar somente os aspectos negativos
  • cometer injustiças
  • não apontar soluções frente aos problemas provenientes das situações específicas do jogo ou da competição
  • privilegiar determinados atletas.

Isso indica que o efeito do comportamento do técnico é mediado pelo significado que os atletas atribuem a ele, e pelo o que os atletas lembram desse comportamento, sendo que a forma de interpretação dessas ações pelas crianças e adolescentes afeta a maneira como eles avaliam sua participação esportiva.

Atitudes frente ao processo de formação esportiva e o que se espera de um bom técnico

Pode-se considerar que há dois tipos de atitudes de técnicos que atuam no esporte infanto-juvenil, dirigindo equipes das categorias de base: O técnico que tem como objetivo principal a vitória, enfatizando o produto final e privilegiando os resultados imediatos e o técnico que visa a participação do jovem, enfatizando o processo e buscando resultados a longo prazo.

Em qualquer uma delas os técnicos podem, dependendo de suas atitudes e da forma de comunicar-se com os atletas, provocar situações causadoras de stress que tendem a influenciar negativamente o desempenho dos jovens e provocar comportamentos que poderão migrar desde o desinteresse pela modalidade e até mesmo o abandono.

Seria razoável que se pensasse que, em um processo de formação, estas últimas atitudes seriam as mais adequadas. No entanto, muitos técnicos, por diferentes razões privilegiam as primeiras, atropelando este processo e antecipando uma série de eventos que, a curto prazo, podem até ser interessantes, mas que poderão, por sua vez acelerar o processo de abandono dos jovens atletas.

Assim sendo, quatro princípios devem nortear a conduta dos treinadores :

  1. Vencer não é tudo, nem somente a única coisa: os atletas não podem extrair o máximo do esporte se pensarem que o único objetivo é vencer seus oponentes. Apesar da vitória ser uma meta importante, ela não é o objetivo mais importante.
  2. Fracasso não é a mesma coisa que perder: é importante que os atletas não vejam perder como sinal de fracasso ou como uma ameaça aos seus valores pessoais.
  3. Sucesso não é sinônimo de vitória: nem o sucesso nem o fracasso precisam depender do resultado da competição ou do número de vitórias e derrotas. Vitória e derrota pertencem ao resultado da competição, enquanto sucesso e fracasso não.
  4. Os jovens devem ser ensinados que o sucesso é encontrado através do esforço pela vitória, eles devem aprender que nunca são perdedoras esforçam-se ao máximo.

Fica evidente que o técnico deve ter uma participação ativa no processo de formação do jovem, porém provido de conhecimentos suficientes que permitam uma atuação segura e benéfica para os futuros atletas. Esse conhecimento deve ocorrer em quatro domínios:

  • conhecimento do próprio jovem (sua realidade biológica, psicológica e social)
  • conhecimento da modalidade com a qual irá trabalhar (aspectos físicos, técnicos e táticos)
  • definição adequada de métodos e estratégias de trabalho (planejamento, definição de objetivos, escolha dos métodos de treinamento e dos exercícios que farão parte desta atividade, entre outros)
  • intervenção eficaz no processo (atitudes positivas de oferecer condições dos atletas aprenderem e apresentar possibilidades para a solução de problemas)

Leituras sugeridas

De Rose Jr., D.; Deschamps, S.R. e Korsakas, P. O jogo como fonte de stress no basquetebol infanto-juvenil. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 1, 2, 36-44, 2001a.

De Rose Jr., D.; Campos, R.R. ; Tribst, M. Motivos que llevan a la práctica del baloncesto: um estudo com jóvenes atletas brasileños. Revista de Psicologia del Deporte, 10, 2, 293-304, 2001.

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Nossas mulheres olímpicas

Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher e como este ano teremos os prè-olímpicos resolvi homenagear nossa jogadoras olímpicas, apresentando alguns dados da participação dessas guerreiras nos Jogos Olímpicos.

O Brasil participa do basquetebol nos Jogos Olímpicos desde 1992, em Barcelona. Foram ao todo cinco participações:

1992 – Barcelona – 7º. Lugar

1996 – Atlanta – 2º. Lugar

2000 – Sydney – 3º. Lugar

2004  – Atenas – 4º. lugar

2008 – Beijing – 11º. Lugar

Curiosamente, somente na nossa primeira participação as meninas foram comandadas por uma mulher – Maria Helena Cardoso – que teve como assistente técnica Maria Helena Campos, a Heleninha. Nos demais torneios nossa equipe feminina foi dirigida por homens: Miguel Ângelo da Luz (1996), Antonio Carlos Barbosa (2000 e 2004) e Paulo Bassul (2008).

Janeth é a recordista em participações – 4, seguida por Adriana Santos, Adrianinha, Alessandra, Cintia Tuiú, Helen, Kelly e Marta com 3. Claudinha, Hortência, Karla, Leila, Paula e Silvia Luz participaram de duas edições dos Jogos Olímpicos.

Foram 34 partidas disputadas, com 18 vitórias e 16 derrotas, sendo que as jogadoras que mais atuaram foram: Janeth (29 jogos), Cintia Tuiú e Alessandra (24), Helen e Marta (20), Kelly (18), Leila (15), Adrianinha (14), Paula (13), Adriana Santos (12), Hortência e Silvia Luz (11).

Nessas 34 partidas o Brasil fez 2629 pontos (média = 77,3) e sofreu 2444 (média = 71,9). Nossas maiores pontuadoras: Janeth (535 pts), Alessandra (290), Helen (252), Marta (236), Paula (210), Hortência (174), Iziane (120), Kelly (111) e Cintia Tuiú (108).

Considerando as médias de pontos por jogo temos: Janeth (18,5 ), Paula (16,2), Hortência (15,8), Iziane (15,0), Helen (12,5), Alessandra (12,1) e Marta (11,8).

Eis a relação das nossas 37 atletas olímpicas:

Adriana Santos, Adrianinha, Alessandra, Cintia Tuiú, Cláudia Pastor, Claudinha, Érika, Fernanda Beling, Franciele, Graziane, Helen, Hortência, Zaine, Iziane, Janeth, Joycenara, Karen Gustavo, Karla, Kelly, Leila Sobral, Lilian, Branca, Mamá, Zezé, Paula, Marta, Micaela, Nádia, Chuca, Roseli, Ruth, Silvia Luz, Silvia Gustavo, Simone Pontello, Vânia Hernandez, Êga e Vivian.

Dezoito conseguiram trazer para o Brasil as medalhas de prata e bronze:

Adriana Santos (prata e bronze), Adrianinha (bronze), Alessandra (prata e bronze), Cintia Tuiu (prata e bronze), Cláudia Pastor (prata), Claudinha (bronze), Helen (bronze), Hortência (prata), Zaine (bronze), Janeth (prata e bronze), Kelly (bronze), Leila (prata), Lilian (bronze), Branca (prata), Paula (prata), Marta (prata e bronze), Roseli (prata) e Silvia Luz (prata e bronze).

A elas e a todas as mulheres que dignificaram nosso basquetebol minhas sinceras homenagens.

Comemorando o bronze em 2000

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Boas leituras

Meus amigos do basquetebol.

Vou fugir um pouco do assunto central desse blog que é o basquetebol e falar de leituras para quem gosta de esporte de forma geral.

São três livros que, para aqueles que são profissionais de educação física e esporte, deveriam constar de suas bibliotecas.

O primeiro, HISTÓRIA DO ESPORTE NO BRASIL: do império aos dias atuais, é uma obra deliciosa que conta de forma bastante detalhada a história de diferentes esportes e manifestações de nossa área. Não se trata de um apanhado de datas e fatos, mas sim do relato minucioso sobre modalidades bastantes conhecidas e outras nem tanto e eventos pouco comuns para nós brasileiros (vocês sabiam que no Brasil já tivemos touradas?). O livro fala de ciclismo, automobilismo, futebol, corridas de cavalo, ginástica, a mulher no esporte, políticas públicas, capoeira, esporte escolar, esportes na natureza, os esportes na ditadura militar, esportes radicais, esporte e negócios, globalização e megaeventos. Vale muito a pena essa leitura, para entendermos um pouco mais da relação do esporte com a vida do brasileiro.

Autores: Mary Del Priore e Victor Andrade de Melo e colaboradores. Editora: UNESP. Ano 2009.

Os outros dois livros recomendados tratam de assuntos ligados ao marketing esportivo e organização de eventos.

INVASÃO DE CAMPO, é um livro que conta os bastidores da criação de uma das maiores empresas de materiais esportivos do mundo, a Adidas, e sua dissidente, a Puma,. Tudo gerado pela briga dos irmãos Adolph e Rudolph Dasslar (o nome Adidas vem da junção de Adolph, cujo apelido era Adi e seu sobrenome Dassler). O livro aborda a briga pelo mercado esportivo, começando pelo atletismo e se estendendo aos demais esportes (principalmente o futebol) e as estratégias, nem sempre honestas para a captação de atletas e entrada nos grandes eventos esportivos. Os pactos firmados com Pelé e João Havelange também são retratados nessa obra muito interessante.

Autora: Barbara Smit. Editora: Zahar. Ano: 2007.

O responsável pelo marketing dos Jogos Olímpicos na era Samaranch conta em A VIRADA OLÍMPICA, como tornou os jogos uma das marcas mais valorizadas do mundo. A profissionalização da organização, os grandes contratos, os patrocinadores, as estratégias e os obstáculos são retratados de forma muito clara. É uma obra de referência para aqueles que querem entender um pouco mais do mundo dos negócios no esporte.

Autor: Michael Payne. Editora: Casa da Palavra. Ano: 2006.