Dando continuidade à serie Mini Artigos, apresento um trabalho realizado pelos fisioterapeutas Felipe Tadiello e Gabriel De Rose, sobre lesões no basquetebol brasileiro.
Este trabalho foi publicado na íntegra na Revista Digital Lecturas en Educación Física – http://www.efdeportes.com – ano 10, no. 94, 2006.
As lesões podem ser consideradas como o principal fator de afastamento de atletas de sua modalidade esportiva. Esse afastamento é prejudicial, pois influencia diretamente no seu desempenho físico e técnico, além dos possíveis prejuízos psicológicos, já que a recuperação pode ser demorada, exigindo dele muita paciência e cautela para voltar à atividade, conseqüentemente a equipe também é prejudicada. As lesões, muitas vezes, acabam acontecendo em momentos importantes de suas carreiras, afastando-os de competições, tirando-os de seleções e, em alguns casos, provocando o abandono precoce da carreira.
O basquetebol é um esporte que exige contato entre os jogadores tanto na defesa quanto no ataque. É jogado por dez atletas que ocupam simultaneamente um espaço de 420m². No entanto, a maioria das ações acontece em meia quadra (210m²) o que dá ao jogo uma dinâmica especial e aumenta a probabilidade desse contato. Nesse esporte, a maior carga de trabalho ocorre nos membros inferiores provocando um grande número de lesões em função dos deslocamentos, mudanças bruscas de direção e saltos.
Analisando resultados de vários estudos, constata-se que, no basquetebol, os membros inferiores são os mais acometidos por lesões, com destaque para entorses de tornozelo. As mudanças bruscas de direção, saltos e contato direto com outros atletas parecem ser as causas mais comuns para que elas ocorram. No caso do joelho, as entorses e as tendinites patelares foram as lesões mais freqüentes, assim como as luxações nos dedos das mãos.
O estudo a seguir foi desenvolvido com 344 atletas de basquetebol brasileiros (174 homens e 170 mulheres) com idade variando entre 14 e 35 anos, participantes de equipes representativas de clubes e seleções regionais e nacionais. Para a coleta dos dados foi utilizado o questionário Perfil do Campeão, desenvolvido pela Rede CENESP, do Ministério do Esporte, cujo objetivo foi traçar um perfil do atleta brasileiro. Esse questionário contém uma sessão especifica para relato de lesões esportivas.
Dos 344 atletas que participaram do estudo, 269 (78,2%) relataram algum tipo de lesão ao longo de sua carreira, não havendo diferenças percentuais entre homens e mulheres.
Sessenta e um atletas relataram mais de uma lesão ao longo de sua carreira, sendo 32 do masculino e 29 do feminino. Houve atletas que tiveram até 4 lesões. Ao todo foram constatadas 341 lesões sendo 172 do masculino e 169 do feminino.
As lesões foram identificadas por segmento corporal, sendo: 274 nos membros inferiores (80,3%), 44 nos membro superiores (12,9%), 22 no tronco (6,5%) e 1 na cabeça (0,3%)
Nos membros inferiores as lesões de tornozelo foram predominantes (150, sendo 100 casos de entorses, 7 casos de tendinite, 6 casos de ruptura ligamentar e 11 fraturas, entre as principais), seguidas por lesões no joelho (90, sendo 28 casos de tendinite patelar, 13 entorses, 6 lesões de menisco e 16 casos de ruptura do ligamento cruzado, entre outras). Destaque-se ainda 13 ocorrências de estiramento muscular localizados na coxa.
Nos membros superiores, os ombros (20 ocorrências) e as mãos (19 ocorrências) foram os setores mais afetados com casos de tendinite, luxação e fraturas nos dedos.
O tronco e a cabeça foram os segmentos que apresentaram menor incidência de lesões em relação aos membros. No masculino foram identificadas 8 lesões de coluna e 9 nas costas, e no feminino foram identificadas 2 na coluna e 3 nas costas. A única lesão na cabeça (fratura no nariz) foi citada por um atleta.
Uma das principais funções do treinador é organizar seu trabalho, respeitando as características de seus atletas, principalmente quando tratamos com crianças, para que possamos diminuir o risco de lesões, principalmente nos treinamentos.
O número de lesões pode ser diminuído com um trabalho que passa desde a orientação para o atleta fora da quadra mostrando a ele a importância da utilização de equipamentos adequados, da realização de aquecimento (tanto em treinos quanto em jogos) e também utilizar técnicas de propriocepção dentro da dinâmica do jogo. O trabalho proprioceptivo visa a recuperação de equilíbrio e estabilidade e o uso dos gestos esportivos é de suma importância na prevenção das lesões podendo ser aplicado desde a iniciação.
Um outro fator importante para se diminuir o risco de lesões é contar com o apoio de profissionais especializados (preparador físico e fisioterapeuta) que, juntamente com o técnico, poderão discutir e elaborar as melhores estratégias de treinamento.
A lesão para um atleta não representa somente uma limitação física, mas pode trazer problemas de ordem psicológica bastante significativos, pois o atleta é retirado de seu ambiente de trabalho e da convivência com seus pares. Muitas vezes o acompanhamento psicológico, em casos de lesões mais severas, deve ser recomendado.