Amigos do Basquetebol.
O texto abaixo foi apresentado por mim no 10º Congresso Paulista de Educação Física, realizado em Jundiaí (2006).
Ele aborda um dos assuntos mais polêmicos de nossa área que é a participação de crianças e jovens no esporte. No momento que assistimos uma queda imensa de praticantes do basquetebol e a continuidade de um modelo de competição totalmente inadequado, temos que repensar nossas estratégias.
Será que vale a pena continuar realizando “campeonatos” de mini basquetebol, para privilegiar uma minoria que se destaca por seus atributos físicos, técnicos e cognitivos, ou temos que pensar numa forma de fazer com que muitos outros tenham a chance de, pelo menos, experimentar esse esporte maravilhoso.
Enquanto o mundo todo realiza festivais de mini basquetebol, incrementando a prática do esporte, nós insistimos em campeonatos com 4 ou 5 equipes, totalmente inúteis, custosos para as instituições e que pouco contribuem para revelar valores para o futuro do esporte.
Fica o recado, ou a provocação.
Segue o texto:
O esporte é, constantemente, apontado como sendo um dos fatores que pode contribuir para a formação de crianças e jovens, invocando-se seus benefícios de ordem física, psicológica e social. A difusão do esporte através dos meios de comunicação, os exemplos de sucesso de atletas ainda jovens, o contexto social e a inegável influência de pais, professores e técnicos têm levado um número cada vez maior de crianças ao ambiente competitivo.
A competição infantil não é um tema recente, havendo registros dessas na Grécia Antiga. Os argumentos sobre a participação de jovens em eventos esportivos competitivos são muito contraditórios, havendo os defensores ferrenhos de crianças e jovens nessas atividades e também aqueles que são radicalmente contra essa prática.
A criança ou jovem quando procura pela prática de algum esporte pode estar pensando em uma atividade que o aproxime do grupo e que atenda às suas expectativas físicas, psicológicas e sociais. No entanto, muitas vezes, seus objetivos conflitam com os objetivos determinados por pais e técnicos que, desconhecendo alguns fatores fundamentais para sua permanência no esporte, podem provocar instabilidades no comportamento dos mesmos.
Há fatores favoráveis e desfavoráveis na inserção dessas crianças no esporte. Como fatores favoráveis são citados: inicio espontâneo, prática de diferentes atividades motoras, escolha livre da modalidade esportiva, oportunidade de jogar, jogar de acordo com as suas competências e limites, poder divertir-se e desfrutar da atividade e vencer, se possível. Já os desfavoráveis seriam: início induzido e/ou antecipado, prática de gestos específicos, especialização precoce, imposição por uma determinada modalidade esportiva, ter que jogar bem, vencer sempre e a qualquer custo.
Por que a criança escolhe determinada modalidade, ou um clube ou ainda aquele técnico específico? O contexto social tem forte influência no envolvimento da criança com o esporte sendo que técnicos, professores, pais, mídia e as instituições esportivas são fortes influências não só no momento de iniciar sua vida esportiva, mas também na modalidade que irá praticar.
Assim, o esporte também passa a assumir uma condição de objeto de desejo de crianças e, principalmente de pais (e agora os empresários) que o percebem como uma possibilidade de ascensão social e financeira. Esta percepção aumenta as expectativas quanto ao seu futuro esportivo e atribui às crianças responsabilidades dos adultos (horários rígidos, cargas excessivas de treinamento, obrigatoriedade de desempenhar no mais alto nível),
Deveria ser este o verdadeiro significado do esporte para as crianças? Todas têm a expectativa de serem grandes craques e resolverem seus problemas sociais e financeiros? Enfim, há no esporte, espaço para todos resolverem seus problemas?
Com certeza, haverá uma ínfima parcela de privilegiados física, técnica, tática, psicológica e cognitivamente que poderão chegar a patamares diferenciados, mas não necessariamente auferirem grandes vantagens a partir dessa condição.
Mas também com certeza, haverá uma esmagadora maioria que nem chegarão próximos ao Paraíso e que permanecerão no limbo do esporte de rendimento fazendo parte da estatística dos abandonos precoces ou tornando-se “simples praticantes”.
Evidentemente que as duas situações merecem consideração. Os “futuros atletas” têm que ter a oportunidade de aperfeiçoar seus atributos para seguirem em suas carreiras promissoras. E os “futuros não atletas” devem ter assegurada a possibilidade de praticar para satisfazer sua auto-estima e manter padrões mínimos de saúde física, mental, espiritual e social.
É nessa direção que os programas de esporte para a grande maioria devem apontar. Desvincularem-se da responsabilidade de produzir “craques” e “fenômenos” para produzir cidadãos que tenham no esporte uma alternativa de atividade. Sim, alternativa, pois considero que o esporte não deva ser o único responsável por essa inclusão.
Ela deve ser pensada de forma mais ampla, oferecendo ao jovem oportunidade de conhecer e vivenciar outras manifestações tão importantes quanto o esporte. Refiro-me às artes de maneira geral, à cultura e ao lazer.
A integração entre elas é que promoverá, efetivamente, uma inclusão social responsável e efetiva, levando aos jovens a oportunidade de desfrutar de suas vantagens e utilizar os conhecimentos adquiridos em sua vida cotidiana.
Faça a sua escolha