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Como será o amanhã: responda quem souber…(2)

Amigos do Basquetebol: este post foi escrito durante o Mundial Feminino, mas por essas mazelas da informática (para não dizer, ruindade desde que vos escreve, ele se perdeu). Então resolvi reeditá-lo com atualizações. Então aí vai ele:

É com esta frase (letra de uma famosa música da nossa MPB) que  inicio este post.

Ela reflete a preocupação com nosso basquetebol em um futuro muito próximo. Esta preocupação já havia sido externada em uma manifestação que fiz a meus amigos do basquetebol, através do meu mailing, quando passamos por uma crise forte, evidenciada pelo episódio protagonizado por uma de nossas jogadoras (Iziane) que havia se recusado a voltar para o jogo a pedido do técnico Paulo Bassul.

Na época eu mostrava toda minha indignação por esta atitude que nada trazia de positivo para a imagem do nosso basquetebol. Também passávamos por um período de incertezas quanto ao futuro do basquetebol masculino, pois caso semelhante havia acontecido com Nezinho, quando afrontou a decisão do então técnico Lula Ferreira.

O Brasil colecionava maus resultados e algo tinha que ser feito.

No masculino, trocamos de técnico duas vezes e a opção foi por trazer um estrangeiro (no caso, Moncho Monsalve) para tentar recolocar o Brasil no cenário mundial. O Moncho veio e, na verdade, pouca coisa mudou em termos de resultado. Mas vislumbrava-se uma luz no fim do túnel. A CBB mudou seu comando, as coisas foram se tornando mais profissionais e a LNB passou a ter um papel preponderante na evolução do nosso basquetebol masculino. Os campeonatos tornaram-se mais atrativos e vários jogadores importantes retornaram ao país.

Com a impossibilidade da permanência do Moncho trouxemos outro estrangeiro, o campeão olímpico Ruben Magnano. Competentíssimo, interessado na melhora do nosso basquetebol e com ideias interessantes para a evolução do nosso esporte. O Brasil foi para o Mundial, melhorou sua classificação, lutou de igual para igual com grandes forças e nos deu um certo alento para o futuro. Mas ficou um certo gosto amargo pois poderíamos ter ido um pouco além.

No feminino, após o já citado episódio, criou-se uma polêmica sobre a permanência ou não do técnico e a volta de Iziane, considerada por muitos fundamental para que o basquetebol feminino pudesse se reerguer. E a jogadora venceu essa batalha. O técnico foi desligado e a jogadora reconvocada com ares de salvadora da pátria e grande estrela do baquetebol feminino. Trouxemos um técnico desconhecido, com pouca experiência internacional (ao contrário do masculino) e sem conhecimento da realidade do basquetebol feminino do Brasil. Nossos campeonatos continuaram a ser disputados por meia dúzia de equipes (todas de S.Paulo), não houve uma preocupação de ativarmos os campeonatos de base, que se resumem a três ou quatro equipes (também em S.Paulo).

Foi gerada uma polêmica pela convocação de um novo técnico, que acabou recaindo sobre o Ênio Vecchi. E, novamente, sem entrar no mérito de sua competência.

Foi criada a Liga Feminina e torcemos para que ela possa, como no masculino, melhorar o nível dos campeonatos e revelar jogadoras  para suprir nossas futuras gerações. Mas pelo visto, as coisas continuaram as mesmas.

No Mundial Feminino apostamos numa equipe repleta de veteranas (não se discute aqui a competência das meninas) e com algumas novatas que esperamos sejam, no futuro, as estrelas do nosso basquetebol feminino. O Brasil ficou em nono lugar, de certa forma decepcionante pela tradição e força do feminino nos últimos campeonatos.

Mas um grande problema nos incomoda e aí a pergunta do título. Como estaremos em 2011 (Pré Olímpicos), 2012 (Jogos Olímpicos, se classificarmos), 2014 (Mundiais) e 2016 (Jogos Olímpicos no Rio)?

É só olhar a planilha das idades de nossos jogadores e jogadoras para vermos que muitos não terão condições de chegar sequer a 2012. E a renovação? Onde estão os jogadores da base para repor nossas peças chaves? No masculino há uma louvável iniciativa de reunir os jovens para participar de treinamentos e preparar equipes para a disputa de importantes torneios em 2011.

Mas há outras questões que podem atrapalhar o planejamento para essas competições:

– até quando dependeremos de atletas que jogam na NBA e WNBA e que, via de regra, se apresentam fora de forma, cansados e em cima da hora, com mil exigências de seus clubes, agentes e deles próprios? Vejam agora os casos do Anderson Varejão (séria lesão que poderá tirá-lo do pré olímpico), do Leandrinho (que declarou estar cansado e não deve se apresentar). Além disto vivemos a constante incógnita da vinda e permanência do Nenê e agora surge também a incógnita do Tiago Splitter, pois ele está jogando menos e não sabemos como se apresentará.

– Até quando ficaremos reféns de alguns jogadores que se colocam acima da seleção e na hora da verdade não fazem absolutamente nada pelo nosso basquetebol?

Ser jogador das ligas americanas não significa ter espírito de seleção. Não significa ter vontade de jogar pelo nosso país e honrar a tradição de jogadores e jogadoras como Wlamir, Oscar, Bira, Marquinhos Abdalah, Adlson, Norminha, Paula, Hortência e Janeth (e há muitos outros nesta lista) que sempre deram a vida pela amarelinha.

Podem me chamar de louco ou saudosista mas afirmo categoricamente: a NBA e a WNBA foram as piores coisas que aconteceram para o nosso basquetebol. Elas dão a falsa impressão de que nossos atletas que lá atuam, são craques, ídolos ou coisa que o valha. Como já disse, elas servem para colocar nosso atletas em péssimas condições de jogo, criam mil problemas para que esses atletas atendam as convocações e dão a eles a falsa impressão de que são os astros de nossas equipes. Vimos isto nos últimos mundiais. Esses  jogadores colocam o individualismo acima dos interesses coletivos. Nossos jogadores mais comprometidos não são os das ligas americanas. São aqueles que jogam verdadeiramente por amor e não por glórias pessoais.

No masculino é muito bonito ver a entrega de alguns jogadores como Alex, Thiago, Marcelo Machado, Huertas e Guilherme.

No feminino, o amor pela seleção vem de veteranas como Helen e Alessandra que jogam no seu limite e mostram como deve se honrar nossa camisa e de novatas que buscam seu lugar ao sol.

Enfim, pergunto novamente: como será o amanhã do nosso basquetebol?

Espero que essas minhas considerações sejam entendidas como uma grande preocupação com o futuro e desvinculado de qualquer preferência política ou pessoal.

3 comentários em “Como será o amanhã: responda quem souber…(2)

  1. Caro Dante,
    Há pouco tempo, foi publicado pelo Alcir, um pequeno artigo que escrevi falando que no nosso país e assim como no nosso basquete precisamos de EDUCAÇÃO: Educação para aprender e Educação para ensinar. Estamos muito longe disso ainda. Na minha opinião mais otimista; uns 50 anos no mínimo. Ainda somos um país sem história e sem cultura. Não valorizamos nossos verdadeiros ídolos. A culpa não é dá NBA ou da WNBA nem do Leandrinho ou do Varejão ou do Nenê. Eles, infelizmente, não foram educados para terem esse tipo de AMOR A PÁTRIA. Os dólares e o prestígio falam mais alto em seus corações e mentes. Enquanto vemos um time com Magic Johnson, Larry Bird, Michael Jordan e Kobe, LeBron e Wade defendendo seu país e outras seleções Européias com seus craques, aqui no Brasil, de apenas um ou dois anos pra cá, é que passamos a cantar o hino Nacional antes dos jogos.
    Falta EDUCAÇÃO, CULTURA e AMOR A PÁTRIA ao nosso país e ao Basquetebol Brasileiro.

  2. Entendo a preocupação do Prof. Dr. Dante De Rose Junior sobre como será o nosso amanhã pela modalidade que tanto amamos que é o Basquetebol, pois sou em comum pela preocupação também. Ainda não sou tão conhecedor de soluções de problemas que enfrentamos no Basquetebol, mas procuro analisar e encontrar uma resposta, com isso tenho sido meio crítico o que tenho visto pelo o estamos vivenciando. O Prof. Dr. Dante De Rose Junior tem sua opinião sobre a questão dos atletas que atuam na NBA e na WNBA, que eu respeito. Mas analiso que começamos a ter maior visualidade para mídia e as crianças quando esses atletas entraram na NBA e na WNBA. Não podemos achar que isso foi ruim ou que existe interesses pessoais ou não, por que o nosso país houveram sucesores em diversas modalidades nas décadas de 80 e 90 pelo Volei, Natação, Futsal, Ginástica e no Basquete ficou estagnado sobre 20 anos achando que só um atleta daria conta de levar o nosso país ao topo. Pelo um jogo coletivo…não é interessante que todos jogavam em função só dele? Na verdade temos muitos interesses pessoais e não coletivo, creio que seja nossa cultura e muitas vezes fazemos irracionalmente. Lembro muito bem que o nosso grande atleta Marcelo Machado (em que sou seu admirador como atleta e pessoa), teve um interesse pessoal muito acima dos mais de cem anos de Basquetebol existente no país, com a sua falta de interesse de sair do ginásio pelo que foi marcado pelo árbitro e pelo que vem a regra, independente de estar certo ou não, regras são regras. Penso eu…como ficamos sendo visto pelos patrocinadores que investiram na competição em Joinville, por crianças, por políticos e pelo o que muitos da nossa História fizeram pelo nosso Basquete? Será que não devemos alguma coisa sobre o que esses mitos fizeram: Bráz, Algodão, Alfredo da Motta, Nilton, Ruy Freitas, Moacir Daiuto, Godinho, Algodão, Alfredo da Motta, Thales Monteiro, Mário Hermes, Togo Renan Soares (Kanela), Wlamir Marques, Angelim, Amaury Pasos, Mayr Facci, Édson Bispo, Waldemar Blatskauskas, Rosa Branca, Hélio Rubens, Edvar Simões, Menon, Ubiratan, Mosquito, Menon, José Aparecido, Marquinhos Abdalla, Carioquinha, Fausto Giannechini, Marcel, Gílson Trindade e outros. Não vamos esquecer que tivemos outro jogador que também teve o mesmo episódio quando jogava pelo Corinthians/Amway na década de 90 em um campeonato brasileiro. Como podemos reverter o nosso amanhã no Basquetebol para um crescimento em conjunto e não por interesses pessoais? Por que o Nordeste continua desfavorecido tendo o maior número de estados em uma Região do País? Aonde está a solução? Complicado tudo isso; tento entender cada situação e vejo que estamos em um círculo vicioso, com interesses pessoais em todo tempo. Por que penso também de como um estado pode crescer em nível de técnicos se só um técnico vai como convocado para todas as competições de seleções para brasileiro, será que só ele é capacitado…se a resposta for que só ele tem o conhecimento, concordo de não ter investimento fora das Regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, porque realmente existe o maior foco de investimento da nossa modalidade. Aconteceu uma coisa bem interessante aqui em Fortaleza e sei que isso acontece no País por inteiro, fiz um torneio de Basquete Feminino com a chancela da FCB, para não gerar complicações de competições piratas, pois sou de comum acordo que só a FCB é a reconhecida pela CBB, mas passei por situações ruins com minha família, pois alguns não pagaram a taxa da competição e eu tirei do meu bolso para cumprir com a arbitragem e premiação, não sendo injusto alguns pagaram depois, outro não. Mas aonde está o nosso interesse maior da modalidade? Acredito que os valores tem que começar a vim das famílias, dizendo e ensinando que devemos respeitar o próximo, não jogar lixo nas ruas e outros valores, para que um dia tenhamos uma cidadania mais justa. Tudo isso pode ser utopia, pois alto rendimento não existe muito interesse na história e sim interesses financeiro, essa é a verdade.

  3. É professor muito preocupante a nossa situação, mas tenho certeza que teremos que melhorar a divulgação do basquetebol em toda a mídia, dando ênfase os meios televisivos, principalmente as TVs abertas, aumentando o número de praticantes sejam em nível escolar, de lazer, competitivo e rendimento aumentando assim a audiência e a procura da modalidade no país. Divulgar e incentivar nas redes de ensino básica municipais, estaduais, federais e particulares) a modalidade aos alunos que estão abertos a descoberta de uma modalidade fascinante que é o mundo do basquetebol.
    Há algum tempo estive para realizar um trabalho de pesquisa em minha região onde explorava a realidade social dos atletas de basquetebol, ou seja, quem eram os praticantes da modalidade, de onde, que tipo de bairro morava, com isso pretendia traçar um perfil sócio econômico dos atletas praticantes do basquetebol regional. Mas com outras atividades compromissadas tive que abandonar a idéia. Bem em viagem com uma equipe sub-15 masculina para disputa da Copa Estadual de Base 2010 na cidade de São Sebastião do Paraíso – MG, observando final do treino da seleção brasileira sub-15 pude ouvir comentários de meus alunos a respeito dos atletas que estavam treinando: “poxa são todos filinhos de pai pai; são todos play boy, etc”. Bem estes comentários me chamaram a atenção e acho que eles queriam dizer, não temos chances de chegar a uma seleção, não tenho condições financeiras. Mas sabemos que nos treinadores temos que tirar essa imagem da mente de nossos atletas. O que quero dizer é: sabemos hoje qual o perfil dos atletas que chegam à seleção? O ideal não seria massificar através de projetos sociais a prática do basquete em todo o país? Um menino de minha cidade do interior de minas com potencial. Como poderia ser visto pelos técnicos de uma seleção se não esta disputando em nenhuma federação e se for para um clube como será a concorrência. Bem com estas hipóteses, gostaria de dizer que o futuro do basquete nacional tanto feminino como o masculino esta condicionado ao nº de praticantes, só teremos bons atletas se a modalidade chegar aos bairros periféricos, nas praças, nas cidades do interior, com planejamentos sérios que visem realmente os benefícios da pratica esportiva em primeiro lugar. Com isso me preocupo como será a nossa participação nos torneios que antecedem as olimpíadas, apesar com as seleções de desenvolvimentos poderemos melhorar sim a desempenho das equipes, mas é apenas uma solução paliativa para o problema que se arrasta há anos.

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